29 agosto 2009

Embrião


Barriga rígida, espaço preenchido. Não há lugar para mais nada. Sinto-me agressiva na espera. A voz que tanto importuna desaparecerá. Feto pronto, humano desenhado com meus anseios. sei que me amarás. Lá fora nada importa, não fede, não cheira. O tempo congela e inexiste. O joelho aos poucos cicatriza, joguei fora os espinhos só restaram os gravetos. O quarto está avisado para não lhe assustar. Dos dias presa ao berço, a música de seu choro alimentará meu zelo. Cobertor de lã e chá. Mavioso seu toque o corpo acolhe sem gretas. Leito de solo quente embebido no vinho. Ver seu contorno de luz e colher espaços. Voz rouca, força esgotada tingido de vermelho completa infanta. Direi seu nome apenas aos anjos de Deus e ao seu filho amado: que importa? Ficará sem nome. Para mim você é verbo. Filho do verbo.

27 agosto 2009

Instinto

O homem carne caminha cru sobre o asfalto. Há fome, vontades da carne. Pingos de chuva cobrem seu corpo. O caminho líquido escorre no chão. Seiva doce marcada nas entranhas sem pudor, arranha e fere a face. O animal luta para sobreviver.

22 agosto 2009

Consolo


             Órgãos cheios de vazio

                                        [falta espaço]

            cascos velhos guardados entre trapos

            poeta, barco a devira a espera da tempestade

           o próprio mar o proteje.  

Ausente


O tempo presente se resume em distâncias. Ter perto angustia e aprisiona. Agora é parte, pedaço do que era, falta o outro, o ausente. Equilíbrio constante é a ambição dos loucos. Minutos esquecidos no seio da imagem. Límpido austro na esfera carnal e a gaivota chora com a visão do passado.

17 agosto 2009

Dança


Fêmea no cio e chuva de verão. Selvagens água e coito andam seminus. Trocam olhares tensos. Veias de água e rios de sangue seguem calados seu destino traçado, enquanto os peixes ensaiam a dança. Os sinais desenhados em suas curvas, só a folha acompanha a música.

11 agosto 2009

Pureza


Amor espia beleza no buraco da fechadura da existência. A porta existe, falta coragem para abrí-la. Covardes deixamos o verbo escapar entre os dedos. Eles tocam o céu. Tímida força envolta em lençóis de linho puro. O que fica é escuro.