07 novembro 2015

À passagem


O vestido velho acusou mentiras. Mal sabe ele que sofro de esquecimento. É sempre assim o encontro da razão e da realidade, as duas se conhecem, são vizinhas e mentem muito acreditando que são senhoras distintas de natureza nobre. Mal sabem que sua origem  é das trevas e santas promessas vivem a sua espera. Faço de conta que acredito na sua importância e que reconheço sua integridade. Ouço os sussurros ao meu ouvido: insana e demente. As vozes pensam que eu nasci longe da verdade, sempre me avaliam por sorte de várias promessas, e se esquecem dessa luz que  me acompanha, que adormece a cada raiar do dia, e prefere permanecer oculta. Da loucura quero distância e ventos sopram ao meu favor, a grade já foi cerrada, os passarinhos já fugiram da tempestade  só aguardo  sua chegada, sei que é certo, me deixarão partir, nunca mais seus sussurros hei de obedecer. A justiça virá a cavalo e com sede, muita sede. Deram-me penas falantes, e nessas letras despedaçam milhares de algemas. Ouço risos em tom de vitória e deixo tudo dentro escorrendo entre essas alegrias passageiras, é como um rio de correnteza forte, que me arrasta junto com os troncos e destroços depois da chuva. A força da água corre no meu peito e meu olhar se dispersa no horizonte. Posso jurar que quero uma cura, uma receita caseira, pode ser um chá, para que esse peito não doa mais dividido em liquida força. Atravesso a ponte com a esperança de achar minha cura do outro lado,  naquele lugar onde as imagens não são mais necessárias.